Não é fácil mantermo-nos criativos dentro de quatro paredes, especialmente aqueles que vivem da criatividade. Dei por mim a cair num loop de procrastinação e autocrítica. Já nada estava a puxar por mim, a minha motivação lentamente ia por água abaixo. Decidi obrigar-me a mudar o rumo que a minha vida estava a tomar, tinha receio que quando tudo isto acabasse, tivesse ficado para trás juntamente com a minha criatividade.
Optei por dedicar-me ao autorretrato. Infelizmente não tenho ninguém comigo que se deixe fotografar, e também não tenho propriamente adereços com que me pudesse entreter. Isto de estar numa casa há pouco tempo tem o lado bom e o lado mau.
Nunca gostei propriamente de ser fotografada nem de ver o resultado. Tenho noção que no que toca à manipulação da imagem ainda tenho bastante para aprender. Mas desta vez estou a obrigar-me a tirar pelo menos uma fotografia de cada série de autorretratos. Espero que assim consiga despir-me rapidamente dos preconceitos criados na minha cabeça e dedicar-me ao que realmente importa: Dar asas à minha arte.
Como surgiu a minha ideia para esta série de autorretratos?
1. Séries com boa fotografia
É completamente natural que estando fechados em casa, o foco principal seja a televisão. E na televisão há tanta coisa, e ainda bem! Eu adoro ver televisão e perder-me nos enredos. Especialmente trash tv tem sido uma grande aliada nesta quarentena. É o meu guilty pleasure, ver a vida dos outros, trazer ao de cima o meu lado mais “voyeur” e cusco. Mas também é fácil deixarmo-nos cair nessa espiral de não fazer nada e ficar apenas a observar. Recentemente várias pessoas recomendaram-me a série Outlander. Como estava preguiçosa, andei a adiar. Decidi começar a vê-la e foi a melhor decisão que tomei! Sempre gostei muito de história, por isso uma série de época era mesmo o que estava a precisar para despertar. Além de ter uma história supercativante, tem imagens lindíssimas. Situada na Escócia, um dos meus destinos de sonho, a fotografia desta série está excecional. Sem me aperceber, pouco a pouco estava a começar a sentir o bichinho da fotografia a despertar. Maioritariamente a vontade que tive foi de visitar a Escócia com um casal e fotografa-lo naquelas lindas paisagens, mas como isso não é possível para já, decidi virar o jogo e perceber como poderia tomar partido destas imagens que me punham à frente.
2. Pensamento positivo
Apercebi-me com os meus últimos textos que as pessoas à minha volta julgam que ando em baixo. Efetivamente ando em baixo, mas andamos todos, não é? Queria então fazer algo alegre, que quando as pessoas que me são próximas vissem, não julgassem que ando à beira de um mental breakdown. Queria transmitir alguma positividade. Acho que neste momento, ainda remetendo para o meu último texto (Isolada), o nosso papel para ajudar um pouco com o que se está a passar, é ficar em casa, sem dúvida, mas também estar lá uns para os outros. Às vezes não apetece atender o telefone, às vezes estamos nós no nosso direito de refilar e estar em baixo e está tudo bem com isso. Mas também é o nosso papel ouvir o outro e tentar animar, porque tem que ser, estamos todos juntos e faz parte da situação em que nos encontramos. Decidi então que queria fazer algo feliz, que pudesse deixar alguém mais animado e não tão melancólico.
Pensei em coisas que me fazem feliz. O bom tempo, a natureza.
Pensei no que estaria a fazer se não estivesse fechada em casa. Lembrei-me do borboletário ao lado da minha casa. Nunca lá fui na primavera e tinha decidido que este ano seria o primeiro ano em que iria ver as borboletas voarem de um lado para o outro.
Surgiu-me uma ideia. Eu como borboleta? Uma borboleta gigante na minha cara? O bichinho começou a crescer dentro de mim.
3. Pinterest como aliado número 1
Quando começo a ter ideias para algum trabalho mais criativo, gosto de ir ao Pinterest. Ver como outros profissionais fizeram, e ver também coisas que não têm nada a ver com a minha ideia. Mas é bom, estimula o cérebro, faz-me querer fazer mais e melhor.
É preciso ter sempre cuidado para não darmos por nós a imitar o trabalho de alguém. Mas inspira-me ver coisas diferentes e não apenas do mesmo artista. Ver os trabalhos de artistas que gostamos, e de artistas que gostamos menos. De fotógrafos ou de pintores. Ver o que é que outros fizeram com o nosso tema, ver se alguém já teve esta ideia e também, muito importante, confirmar que a nossa ideia não é apenas uma cópia do que já vimos nalgum lado e não nos lembramos.
Por norma, ir ao Pinterest faz com que comece a limar a minha ideia. Quando comecei a pesquisar, a minha ideia seria a minha cara, muito próxima da máquina, com uma borboleta pousada no meu nariz, de asas abertas. Apenas se veriam os meus olhos e o corpo da borboleta.
Com esta pesquisa decidi então que queria uma fotografia sentada no chão da minha sala, com um vestido largo. Os braços para cima, como se estivesse a abrir um portal, e muitas borboletas azuis a saírem das minhas mãos. A minha ideia era que estaria a abrir um portal de boas energias, e de lá sairiam as borboletas.
4. Fazer-me sentir bonita
Comecei a preparar o cenário para fotografar, e isso passou também por me preparar a mim. Não gosto de ser fotografada, não gosto de ver a minha figura em fotografias. No entanto, se é para o fazer, tenho que me fazer sentir bonita, o máximo possível. Peguei em toda a minha maquilhagem e nos meus pincéis e comecei a tratar de me embonecar. Parecendo que não, esta sensação me olhar ao espelho e me ver arranjada dá um boost na autoestima como eu não estava à espera. Não passo os dias de pijama, mas confesso que a minha maquilhagem está guardada há muito tempo. Não gosto de me maquilhar para ficar em casa, essencialmente também porque depois não tenho paciência para me desmaquilhar. Mas hoje, pelo bem da fotografia, tinha que o fazer. E soube-me tão bem, colocar música na casa de banho e arranjar-me como se fosse sair à noite para beber um copo com as minhas amigas. Vestir um vestido que gosto bastante e preparar para arrasar.
5. Fazer, fazer e fazer
Um processo que começou por querer fotografar um casal na Escócia, que passou para fotografar uma borboleta na minha cara, e terminava com um grupo de borboletas a sair das minhas mãos levantadas no ar, como se estivesse a abrir um portal.
Comecei a fotografar, não estava a gostar. Isto dos autorretratos ainda é bastante recente para mim. Os primeiros que fiz, há uns anos, era com o bom do auto temporizador e dar uma corridinha. Felizmente a minha câmara tem Wi-Fi e decidi experimentar. Sem dúvida que é um bom aliado, poder ir vendo no telemóvel como estou a ficar sem ter que fazer grandes correrias. Por outro lado, a ginástica de ter que esconder o telemóvel na fotografia ainda é uma arte em treino.
Tive então que tentar arranjar formas de esconder o telemóvel. Primeiro escondia-o no vestido, mas acabava por ficar um grande foco de luz na minha roupa. Depois decidi fazer uma busca pela casa e escolhi um livro. Guardei o telemóvel entre as páginas. À medida que me ia fotografando, lembrei-me do filme “A Bela e o Monstro”, e decidi pôr a tocar as músicas do filme. Enchi-me de sentimentos nostálgicos e, ao mesmo tempo animados. Sabem, eu quando era pequenina queria ser uma princesa da Disney (quem não?) e sempre tive um fascínio especial pela Bela.
E enquanto fotografava, sentia-me exatamente como a Bela. E pela minha memória iam passando imagens de uma das minhas partes preferidas do filme. O momento em que depois da Belle rejeitar o pedido de casamento do Gaston, corre a cantar e deita-se num prado cheio de flores. Lembro-me de ser pequena e andar a correr pela casa como se fosse a Bela a correr pelos campos. As ideias começaram a surgir, e não parei até estar completamente satisfeita. À medida que ia fotografando, as imagens ficavam mais parecidas com o que tinha idealizado.
O resultado final