Como comecei a fotografar casamentos e porque não deves fazer como eu fiz!

Há uns tempos no Instagram falei sobre o meu primeiro casamento. Prometi partilhar o meu testemunho convosco, e contar-vos como comecei a fotografar casamentos, assim como alguns conselhos para quem esteja a começar.

A minha história nos casamentos começa em 2017. Até ao momento não tinha ainda nenhuma experiência nem contacto com este mundo, os seus rituais nem como funcionava. Nunca tinha ido a um casamento, nem como convidada. Tinha acabado de terminar o curso de Fotografia HND in Art and Designs na ETIC e estava convencida que queria seguir fotografia de moda. Na altura, ensinavam-nos que a fotografia de casamentos era algo muito desvalorizado. Éramos formatados que este tipo de fotografia era algo que nem deveríamos considerar, que apenas os “maus fotógrafos” seguiam para fazer dinheiro, uma área onde não se poderia ser criativo. Além disso, até ao momento os fotógrafos de casamento que conhecia eram fotógrafos muito tradicionais e eu não me identificava com o estilo deles.

No ínicio de 2017, por volta de abril, encontro um anúncio no LinkedIn de um estúdio de fotografia que procurava uma estagiária – Sim, especificava que tinha de ser mulher. Eu candidatei-me a este estágio e eventualmente fui contactada para uma entrevista. Após esta entrevista, os fotógrafos do estúdio chamaram-me para ir fazer um casamento com eles, que eu aceitei sem hesitar. Preparei o meu material todo, altamente entusiasmada lá estava eu às 7 da manhã em ponto em casa do fotógrafo em questão. Não sei quantas horas foram o casamento ao certo, nem quanto tempo estive em pé, mas para a altura em que era uma miúda de 21 anos que nada sabia desta indústria, foi altamente cansativo. Lembro-me de só chegar a casa após a uma da manhã. Durante o dia, contrariamente ao que ia à espera, acabei por não fotografar e estive apenas a carregar material, segurar luzes, gerir e organizar os convidados para fotografias de grupo e essencialmente a observar a dinâmica. Apesar de não fotografar, aprendi imenso neste dia pois tive a oportunidade de perceber os timmings de um casamento, aquilo a que um fotógrafo deve estar atento, e a correria que é trabalhar nesta área. Ver o casamento de um ponto de vista que um convidado não vê. Por vários motivos acabei por não continuar a trabalhar com esta equipa mas abriu-me os horizontes para a fotografia de casamento e a partir daqui comecei a pesquisar mais sobre os profissionais da área e tentar encontrar um estilo com que me identificasse. Foi nesta altura que descobri grandes fotógrafos de casamento em Portugal, que ainda hoje admiro imenso, como a Adriana Morais, o Hugo Coelho, entre outros.

Em 2017 acabo por ser convidada para mais dois casamentos. Precisamente uma semana depois desse casamento em que fui assistir, vou pela primeira vez a um casamento como convidada. Apesar de também não me identificar com o registo deste fotógrafo, estava deslumbrada. Seguia os fotógrafos com os olhos para todo o lado que iam e tirava notas mentais das suas ações.

Em setembro tenho o casamento do meu primo, desta vez um fotógrafo mais documental. Foi a primeira vez que vi em primeira mão o trabalho de um fotógrafo com que me identificasse, e os seus valores, visto que me tinham pedido ajuda para ver os preços (eu que não sabia de nada naquela altura!!). Mas os fotógrafos cobravam um valor justo, o que para mim também foi um bom ponto de partida para mim em termos de valores praticados no mercado. Nesse casamento fui aquela pessoa chata que todos os fotógrafos odeiam, que é a convidada que anda com a câmera atrás a fotografar tudo. Fotografei as preparações (não dos noivos mas dos convidados), fotografei durante a cerimónia e cocktail. Porque mesmo nesta fase não me queria intrometer propriamente nos “momentos do fotógrafo” nem desrespeitá-lo. Mas foi uma ótima oportunidade para ver o fotógrafo em ação e comparar com as fotografias entregues, mas também para tirar as minhas primeiras fotografias que usaria para portefólio.

 

Como comecei a fotografar casamentos – Jessie e André

Fotografia que tirei no casamento do meu primo, Setembro 2017

 

Logo após este casamento, a irmã de uma das minhas amigas mais antigas e chegadas, diz-me que se vai casar e que me queria como fotógrafa do seu casamento. Eu fiquei num misto de entusiasmo e medo da cabeça aos pés. Apesar de me sentir muito grata e honrada, fui completamente transparente e disse-lhes que não tinha nenhuma experiência a fotografar casamentos e que achava (e continuo a achar) que é um evento demasiado importante para se pôr nas mãos de uma amadora. Eles ainda assim quiseram que fosse eu a fotografar o casamento, e que estariam dispostos a pagar aquilo que eu quisesse.

No dia do seu casamento eu estava uma pilha de nervos e num estado de stress constante. Para mim acabou por não ser tão “mau” quanto esperava porque estava no meio das pessoas que fazem parte do meu conforto. Dormi em casa da noiva na véspera porque tinha muito medo de me atrasar (onde é que já se viu a fotógrafa a dormir em casa da noiva?), os convidados eram essencialmente a família que me viu crescer, e até a minha mãe andava lá pelo meio. Por estar mesmo muito confortável com eles, acho que consegui aliviar um pouco dos nervos que com outra família qualquer não conseguiria.

Outra grande ajuda neste dia foi que pedi à minha querida amiga Patrícia Lourenço (da SoftBox) para vir comigo fotografar este casamento. Para quem não está familiarizado com os termos, habitualmente nos casamentos há o fotógrafo (aquele que é contratado pelos noivos), e por vezes pode haver o segundo fotógrafo (contratado pelo fotógrafo principal para o assistir). Neste caso a Patrícia foi o meu braço direito, esquerdo e as minhas pernas para andar. Fizemos este casamento as duas como “primeiras fotógrafas”, sendo que depois acabei por ser eu a responsável por editar as fotografias todas e montar a história (visto que era um casamento meu). E sem a presença dela neste dia, de certeza que o resultado não ficaria tão bom. Por exemplo, nas fotografias da cerimónia foi muito difícil para mim encontrar as definições perfeitas para aquela luz, devido à minha falta de experiência. E enquanto eu podia estar a fazer experiências, a Patrícia assegurava que estava tudo a ser registado à mesma. A Patrícia estava lá para garantir que o casal recebia as fotografias essenciais pelas quais me estavam a pagar, e eu estava lá para ir fazendo as coisas ao meu ritmo e aprendendo. Se acho isto bom para primeiro casamento? Não, não acho mas explicarei mais à frente. Apesar de os noivos terem adorado as fotografias tiradas por mim, sem a Patrícia o resultado não teria sido tão bom, por toda a ajuda e confiança que me transmitiu.

Eu tenho muito orgulho neste casamento. Apesar de ter sido o meu primeiro casamento de sempre, é um casamento do qual eu ainda gosto muito das fotografias. Apesar de a minha linguagem visual ter-se vindo a melhorar e alterar ao longo dos anos, são fotografias que gosto de revisitar com orgulho. Podem ver este casamento aqui.

Como comecei a fotografar casamentos – Ana e Kent

Fotografia do meu primeiro casamento, Dezembro de 2017.

 

Como comecei a fotografar casamentos sozinha, os casamentos que se seguiram já não foram tão bons, na minha opinião. Não tinha experiência suficiente para estar a fazer casamentos sozinha, cometi todos os erros possíveis no início e sofri muito com isso. Não tinha a qualidade técnica necessária, nem estava devidamente preparada. Não implica que os casais não tenham gostado das fotografias à mesma, mas eu sei que não tinha o ritmo para fazer sozinha o que esta profissão implica e sofri muito com as dores de crescimento. Por isso hoje, aproveito para partilhar aqui alguns conselhos para os fotógrafos que querem entrar no mundo dos casamentos. Todos aqueles conselhos que eu daria a mim própria se pudesse voltar atrás no tempo.

 

Não fotografes o teu primeiro casamento sozinho

Como disse, e apesar de ir bastante contra a minha experiência e esta ser sido a maneira como eu comecei a fotografar casamentos, esta área é muito exigente e trata-se de um dia muito importante na vida do casal que nos contrata e que não se repete. Além disso, é um dia altamente exigente física e psicológicamente para os profissionais. Por um lado, estamos em pé mais de 12h, muitas vezes agachados, a correr, andar de costas, enfim todos as manobras possíveis. Por outro lado, é nos exigida uma concentração em todos os momentos do dia. Temos que antecipar todos os momentos para garantir “aquela fotografia”.

Além disso, uma pessoa que não esteja familiarizada com os procedimentos do ponto de vida do fotógrafo, vai perder muitas fotografias que são essenciais para contar a história daquele casamento.

Mas se por acaso quiserem mesmo fotografar o casamento sozinhos, sejam completamente transparentes com o casal. Coloquem as cartas todas na mesa para garantir que o casal tem todas as informações antes de tomar uma decisão. Não há nada mais triste que ver casais desiludidos com as suas fotografias de casamento e nós sentirmos que não fizemos um bom trabalho. Aceitem as vossas limitações e exponham-nas. É preferível que guardá-las e termos uma “review” negativa de um cliente que nos pode prejudicar logo no começo da carreira. Se não se sentem confortáveis a ir sozinhos, digam que trabalham levando outro fotógrafo. Não há nada errado nisso e é preferível ser honestos.

Por exemplo: Vou ter um casamento em 2022, que expus aos noivos que não me sentia confortável a fazer sozinha por inúmeros motivos. Eles compreenderam, aceitaram e vou levar uma colega comigo. Mas prefiro isso a guardar para mim, ir sozinha e não entregar o melhor trabalho possível.

Trabalha como segundo fotógrafo

Faço este tipo de trabalhos desde 2018 e gosto bastante. Para mim a melhor forma de aprender fotografiar é a observar outra pessoa. Claro que workshops e palestras são essenciais mas não há nada como ver outra pessoa a fotografar, como ela interage com os fotografados, as decisões que toma, e como arrisca. Além disso, temos oportunidade de nos cruzar com mercados diferentes daqueles em que queremos trabalhar. E isso também puxa pela criatividade, não estar sempre com o mesmo tipo de público, termos que nos adaptar às pessoas e às situações. Torna-nos melhores profissionais, na minha opinião.

Se ainda não começaste a fotografar casamentos, trabalhar para outro fotógrafo também pode ser uma ótima forma de construires o teu portefólio para teres trabalho para mostrar um dia que queiras começar a fotografar sozinho. Mas lembra-te: O fotógrafo não está disponível no dia do casamento para te estar a ensinar. É importante ires minimamente preparado e não esperares que vais ter um “one to one” no dia do casamento. Se for esse o teu intuito, há fotógrafos a oferecer esse tipo de serviços com quem de certeza que irás aprender imenso.

Experimenta uma época completa a fotografar

Apesar de estar na área já há 4 anos, penso que só este ano é que descobri o que é fotografar casamentos. Nunca tinha tido uma época tão ocupada, com poucos dias livres e inúmeras horas ao volante. Tive muitas datas ocupadas não apenas com casamentos meus, mas também de outras fotógrafas e a meio apercebi-me que este ano era o ano em que ia descobrir se gostava ou não do que faço. E acredito que alguém que não seja verdadeiramente apaixonado por fotografia de casamento, tenha muita dificuldade em fazer uma época completa. Porque exige mesmo muito de nós a nível técnico, físico e emocional. Felizmente, a mim, só me veio dar garantias que fiz a escolha certa. Claro que é possível fazê-lo sem se adorar, mas as fotografias não vão transmitir amor. É tão bom podermos estar a fotografar um casamento e sentirmo-nos verdadeiramente felizes.

Treinar sempre que possível

Quando comecei a fotografar, sei que durante 2 anos fotografei todos os dias. Nem que fosse autoretratos, fotografar o meu quarto, pegava na máquina todos os dias. E isto faz com que o nosso olho se vá treinando e que possamos experimentar técnicas, para um dia quando formos trabalhar, estarmos mais seguros de nós próprios.

E treinar também com pessoas, claro. Gostavas de fotografar casamentos? Pede a casais amigos para os fotografares. Não só te vai ajudar tecnicamente, como a aprender a interagir com as pessoas que estão a ser fotografadas e ainda fazes algum portefólio que te ajudará a divulgar o teu trabalho. Todos começamos da mesma forma, e ninguém é contratado sem ter trabalho para mostrar. Portanto treina sempre que possível.

Em 2019 fiz apenas 3 casamentos, mas fiz várias sessões de casais. Muitas não remuneradas. Mas para mim foi muito bom para poder treinar tudo, desde as poses à forma como contacto com eles. E faz toda a diferença! Especialmente este contacto com as pessoas que é algo que também se treina. No dia de casamento somos muito mais que alguém que carrega no botão de uma máquina. Gerimos pessoas. Ajudamo-las. Orientamo-las para fotografias e acalmamos os nervos. Por isso, além de treinar a parte técnica, a parte humana também é fundamental para ser bem sucedido nesta área.

Não tenhas receio de pedir ajuda

Há muitos fotógrafos mais experientes disponíveis a ajudar, a partilhar as suas experiências e até mesmo a querer levar-te contigo para os seus casamentos.

Até 2020 achava esta profissão muito solitária, e sentia-me muitas vezes mal. “Será que os outros fotógrafos têm os mesmos problemas que eu?”, “Será que está toda a gente de agenda cheia menos eu?”, enfim, muitos serás. Felizmente a pandemia fez com que os profissionais se aproximassem, começassem a falar mais abertamente nas redes sociais e uns com os outros. A partilhar as suas frustrações e desafios. Em 2021 nasceu as Women on Weddings que veio mudar completamente a minha visão sobre a indústria, e hoje sinto-me muito apoiada e compreendida por um grupo de mulheres fantásticas, que passam pelas mesmas dificuldades que eu, e mesmo que não passem, têm sempre uma palavra amiga ou um conselho a partilhar.

Aprende, sempre que puderes

Estamos sempre a aprender. Acho fundamental nenhum profissional chegar a um ponto em que acha que já não tem nada para aprender. Porque quando se chega a este ponto, significa que também já não tens nada para dar, nada para evoluir, estás estagnado. Todos os anos gosto de ir a uma palestra, workshop, etc. Gosto de variar nos oradores, e ouvir diferentes pontos de vista. Saímos sempre um bocadinho mais ricos destas experiências, além de ser ótimo para networking.

Como comecei a fotografar casamentos – Inês e Pedro

Fotografia tirada num casamento em Setembro de 2021.

 

Apesar de isto tudo e de ter consciência que se fosse hoje, seguramente que não faria aquele casamento sozinha, estou muito grata à Ana e ao Kent por me terem escolhido e por acima de tudo terem confiado em mim. Foram a minha porta de abertura e tenho quase a certeza que sem eles provavelmente não me tinha iniciado na fotografia de casamento, ou não estaria onde estou hoje. Fico também muito feliz que depois do casamento já fotografei a sessão de gravidez, o batizado da bebé, o segundo aniversário e mais recentemente este ano fizemos mais uma sessão de família com eles, que só me faz crer que não se arrependeram da sua decisão. E é um grande prazer para mim ver a evolução da família deles, à medida que vejo a evolução do meu trabalho.

Esta é a história de como comecei a fotografar casamentos, espero que por aí a história seja um pouco mais tranquila e mais estável. E acima de tudo, que tenhas imenso amor por aquilo que fazes, e que sejas genuinamente feliz a fotografar casamentos. Eu sei que sou! Não há mesmo mais nada que eu escolhesse fazer.

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