1 mês, 31 dias, 744 horas, 44640 minutos, 2678400 segundos.
Estamos todos no mesmo barco, estamos todos a passar pelas mesmas angústias. Mas se por um lado temos que pensar em conjunto e no bem comum, por outro lado também temos que ser egoístas e ouvir as nossas necessidades.
Vivemos uma época complicada e cheia de contradições. Estar isolada é o que me custa, ao mesmo tempo, tudo o que me apetece por vezes é desligar o telefone, não atender certas chamadas nem ter certo tipo de conversas. Odeio que me falem nos números de casos infetados e no estado do país. Não apelo à ignorância, não quero fingir que nada está acontecer. Enquanto me desvio destas conversas, porque me cansam e porque parece que de repente só falamos disto, e todos fazemos as nossas análises e previsões, ao mesmo tempo deixo-me entristecer ao confrontar a minha impotência quando paro para pensar “nos números”. Mais de 15 mil. Mas 15 mil quê? Parece-me que muitas vezes olhamos para isto apenas como um jogo de probabilidades, qual roleta de casino. 15 mil vidas, 15 mil pessoas. 15 mil pais, mães, filhos e avós. Muitos estão sozinhos, no verdadeiro isolamento. Dou graças por ter companhia, ainda que por vezes me farte dela. A mim apenas me pedem para ficar em casa a ver Netflix com a pessoa com quem escolhi partilhar o meu lar, e mesmo assim, muitas vezes dou por mim a chorar por não saber quando terminará, por um passeio de meia hora pelo bairro me saber a 2 semanas de férias em Bali, e pelas saudades.
As saudades… Diz-se que a distância aproxima e agora creio que esta seja a verdade. O meu primo André vive fora do país há muitos anos, e sempre foi claramente o preferido de toda a gente. Nunca percebi bem porque é que éramos sempre tão próximos e íntimos do membro da família que menos aparecia, hoje percebo. Esta ausência faz-nos valorizar a pessoa, faz-nos entender o quanto gostamos dela, o quanto de facto a queremos abraçar e nunca tivemos consciência de tal. Passo horas a rever fotografias com amigas e família, a rir-me dos pequenos traços que as caracterizam. Prometo a mim própria que os vou fotografar mais. Fotografo tantas pessoas com as suas famílias e amigos e acabo por não o fazer com os meus.
Inquieta-me a incerteza do amanhã, esta condição que vivo hoje, e o sufoco que me consumiu ontem. Anseio pelo dia em que tudo normalize, ainda que o veja bem longe, tão longe que quando me sinto quase a tocar-lhe, parece que se afasta ainda mais. Sinto-me protegida no conforto de minha casa, sinto que vivo numa bolha em que ninguém pode entrar nem corromper. Será que quando isto acabar terei medo de sair desta bolha? Será que me afeiçoei demasiado a ela? Cá dentro está-se tão bem.
À noite não durmo, sofro de insónias e pensamentos vários que me invadem, apenas com o propósito de me assustar e angustiar. A minha mente brinca comigo e decidiu que a sua nova diversão é testar os meus limites. Alinho no jogo e deixo-me embalar nos turbilhões de emoções que me passam num só dia. Cada dia que passa sinto a minha paciência a desvanecer-se com o vento e o meu corpo a enfraquecer à medida que o Sol se põe. Deixo a escuridão entrar e tomar posse de mim, de nós, da esperança que em breve estarei lá fora, a fazer aquilo que me faz andar. Na certeza porém, que deixo uma greta da janela aberta para a luz entrar. E que disto, sairemos mais fortes.