Um amor de mãe

Conheço a Rita há muitos anos. Soube que estava grávida através de outros, afinal de contas, nunca fomos propriamente amigas, mas fiquei feliz por saber que esperava bebé. Era notório que a Rita estava contente e um bebé é sempre boas notícias. Não conhecia bem a sua história mas algo me inclinava para que a Rita seria boa pessoa, além de um metro e meio de doçura que não é preciso conhecê-la para perceber.
E que surpresa a minha quando a Rita, depois da Joana nascer, me pediu para fotografar o batizado. Expliquei-lhe como trabalho, assim como faço com todos os meus clientes, e dei-lhe a conhecer os meus métodos. A Rita disse-me uma coisa que eu acho que é o que todos os fotógrafos querem ouvir, ficou gravado na minha memória, “Eu escolhi-te para fotógrafa porque confio em ti e no teu trabalho”. Pode não parecer muito para quem o diz mas cria um aconchego tão forte no coração saber que estamos a trabalhar com pessoas que de facto prezam aquilo que estamos a fazer. Uma sensação parecida com chegar a casa depois de muito tempo fora, comer sopa quentinha, ou um abraço de mãe.
O batizado correu às mil maravilhas, senti-me em casa. Há famílias que nos recebem tão bem que nos fazem esquecer que estamos a trabalhar. Eu adoro o meu trabalho mas confesso que há pessoas que me fazem gostar um bocadinho mais, que me deixam entrar e criar uma ligação. É difícil para mim não querer criar esta ligação. Eu vou a casa das pessoas, eu acompanho-as nos momentos de stress, eu estou lá nalguns momentos mais vulneráveis e entro no espaço delas. Eu preciso desta ligação.
Com elas, criou-se instantaneamente. Gostaram do resultado, valorizaram o meu trabalho, deram-me créditos e feedback. Passados uns meses falámos de realizar uma sessão à Joana para o seu primeiro aniversário. Combinámos tudo e num belo dia de sol, ainda que ventoso, partimos em direção a Sintra. O ambiente não estava a nosso favor, a Joana berrava o caminho inteiro, a Rita já estava ansiosa por tentar acalmar a bebé, ter perdido o telemóvel e não estar tudo a correr como planeado, e eu… Bem, digamos que ir para Sintra me deixa sempre stressada com os caminhos.
Chegámos, preparámos tudo, e tivemos um arranque difícil. A Joana na idade das descobertas só queria pegar nas coisas que não podia ter: a minha máquina, o instrumento das bolas de sabão, tudo o que estávamos a utilizar para preparar o ambiente. A certa altura a Rita pegou na Joana, com esperança de a acalmar e de tentar que a sessão corresse melhor e, assim de repente, como que combinado, a sessão mudou de rumo. E ainda bem! Tornou-se oficialmente um dos meus trabalhos preferidos de sempre. A Rita com o seu estilo de princesa Pocahontas, num ambiente tão mágico como a serra de Sintra, e a Joana que nos braços de mãe, a sentir o seu ritmo cardíaco, mudava de postura, desta vez para uma bem mais tranquila. E se me costumo identificar como fotógrafa de casamentos ou de casais, esta sessão mudou um pouco a minha perspectiva. O que fotografo, afinal? Amor. E não há amor mais sincero e puro que esté, o amor de mãe.
 
Eu não podia estar mais feliz e apaixonada pelo resultado. Quase tão apaixonada pelas fotografias como pelo sorriso com dois dentinhos da Joana.
Ver mais aqui.
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